14.5.06

Hoje

A tua voz quente embriaga-me,
Deixas-me a ver tudo torto e mal
Bebo fogo e a tua boca apaga-me
E volto a arder em dor sentimental
Como se tudo louco me rondasse
E as nuvéns já não caminhassem
Como se dor por ti já não inchasse
E as estrelas todas se quebrassem
Tu fazes isto tudo em mim
Acordo sempre a pensar o que foi ontém
E amanhã sei que não vai ter fim
Perco-me em segredos que de ti me contem
Estou sereno mas revoltado
O amor não me liberta mais
Tu és o meu lado sagrado
E sem ti sou fraco demais
Alimento-me do triste nada
Basta para viver em ti pensar
No meu livro és a minha fada
No meu corpo a força para amar
E só amo com força a ti
Só tu me consegues compreender
Esqueço tudo o que já vivi
Contigo algo novo hei-de aprender
É tudo o que mais quero
Não há outro forte desejo
Pelo tempo eu espero
E aguardo o teu doce beijo
Só assim vou poder voar
E poisar nos teus sonhos
Por ti vou o mundo encantar
Com amor sem ditos enfadonhos
Só assim vou conseguir ser eu
E dar-te a minha simples gratidão
O que já fui sempre morreu
Hoje, tu és o meu coração

12.5.06

A ti, que não sei quem és

A ti, que mostrei o valor de um olhar
Que de lençois fiz aventuras sem fim
Que em dias de chuva fiz o sol brilhar
E te fiz querer que há amor em mim
A ti, que ao longe te dei saudade
Que entre paisagens desenhei a tua imagem
Que do mundo te afastei da maldade
E por ti arranquei do fundo a coragem
A ti, que fiz ver um melhor amanhecer
Que em cores vivas te mostrei a simplicidade
Que por ti mostrei ser capaz de morrer
E sem ti já não sei o que é felicidade...
Estonteado com palavras que dito ao vento
Falo de ti como se te conhecesse
Por o não ter feito eu tanto me lamento
Mas falhei por achar que o merecesse...
Achei que ao de leve não troquei aquele olhar
Só nos sonhos os lençois tremeram
A imaginar a chuva fiz o sol brilhar
E o amor, só na fantasia o prometeram
Achei que sentiste saudade
Ao ver aquela imagem em todo o lado
Mas eras só tu e eu sem identidade
E por isso é que agora pago...

6.5.06

Ao Moncorvense


Ando descalço e contente
Nas pedras da minha igreja
Torna-me são e valente
Pisar o chão que a virtude beja!
Fica de logo leve o atrito
Fica-me presa esta tradição
Vejo a minha igreja como um mito
Torre de Moncorvo no coração!
E sei, luto pelo sitio onde vivi
É aqui que mora a minha paixão
Levo a todo lado o que sempre senti
Caio em sonhos que me levam à tentação!
Na calçada que de beleza me mantém
Que atentamente aprecio este templo
A magia que mais ninguém tem
Que com lágrimas isto contemplo...
Nem o tempo roubou o lindo feito
Nem a velhice faz isto esquecer
Teremos o monumento ao peito
Moncorvenses até morrer!

1.5.06

As coisas escritas

As coisas que faço não podem ser escritas
As que sinto não podem ser vistas
O calor que me consome não é pecado
E o amor é o futuro do frio do passado
A alegria com que vivo não se descreve
A simpatia que dou nem a todos serve
A verdade com que falo não me engana
E a minha saudade não é típicamente humana
A saúde que me dão não é longa
A paixão não é meramente eterna
Mas um ser me ocupa o coração
E o coração não dorme nem hiberna
O prazer é infinito e incolor
O meu é definitivo e colorido
O amor nunca se vive num dia
E eu um dia mais por ele havia já sofrido
A minha sina é clandestina e intemporal
O meu martirio é sangue dado como imortal
A cura que me dão em tempo algum
É igual a tantos por ser só mais um...
As folhas onde escrevo são incontrolaveis
Escrevo sentimentos incontornaveis
A solução é nem sempre tudo escrever
Para a recordação não me fazer sofrer
O coração que de tudo guarda
A tua imagem não mais apaga
E aquilo que um dia já senti
Vem sempre lembrar que por ti já sofri
As coisas eu consigo sempre escrever
E o coração guarda as suas tentações
O amor também me faz porém entender
É a viver que se ganha um misto de emoções!